O fator fiscal como influência para a Selic

Autor: Lucas Sharau

*Por Lucas Sharau

A 262ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada recentemente cortou a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 0,25%, estabelecendo-a em 10,50% ao ano. Essa medida tem como objetivo principal fazer com que a inflação se aproxime da meta até 2025, ao mesmo tempo em que busca estabilizar a economia e incentivar o emprego.

Contrariando expectativas anteriores, essa decisão diverge da previsão feita na última reunião do comitê, que apontava para um corte de 0,50%. O comunicado oficial enfatiza (com “especial ênfase”) a cautela na condução da política monetária, indicando que futuros ajustes serão guiados pelo compromisso de controlar a inflação. Isso significa que o COPOM estará atento aos resultados das políticas fiscais do país e seu impacto na inflação ao decidir sobre a taxa de juros.

No cenário global, há incertezas sobre a política monetária nos EUA e a tendência da inflação global. Os bancos centrais das principais economias estão focados em manter os preços estáveis, mas enfrentam desafios nos mercados de trabalho, o que exige cautela dos países emergentes.

Internamente, embora a inflação geral continue desacelerando, há sinais de que as medidas subjacentes estão acima da meta. O Comitê considera como riscos inflacionários persistentes a pressão global nos preços e a resistência da inflação nos serviços. Por outro lado, a desaceleração econômica global e os efeitos mais fortes do que o esperado do aperto monetário global são considerados fatores de baixa.

Houve uma divisão na decisão do Copom, com 5 votos a favor do corte de 0,25% e 4 votos pelo corte de 0,50%. Essas divergências, aliadas à falta de clareza sobre a política monetária brasileira em meio à incerteza global, resultaram em alta volatilidade, especialmente nas taxas de juros de títulos de longo prazo (NTN-Bs e NTN-Fs) que apresentaram altas em suas taxas (quedas em seus preços).

Além disso, pairam no ar preocupações sobre a presidência do Banco Central a partir de 2025 e como as diretrizes de política monetária desse novo presidente podem afetar o mercado. A principal preocupação dos investidores é que as decisões sobre as taxas de juros se baseiam em critérios técnicos, não políticos, para garantir uma política monetária estável e previsível, o que requer a independência do Banco Central.

Em termos práticos, a redução da taxa básica de juros impacta diretamente a vida das pessoas e das empresas. Taxas de juros mais baixas significam custo menor para tomar empréstimos, o que pode estimular o consumo e os investimentos. No entanto, essa medida também pode ter efeitos colaterais, como aumento da inflação, valorização do câmbio e até mesmo bolhas em determinados setores da economia.

Um dos pontos mais discutidos é o impacto da decisão do Copom sobre o mercado financeiro. O corte na Selic pode influenciar diretamente o rendimento de investimentos como títulos públicos, fundos de renda fixa e poupança. Para os investidores, é fundamental acompanhar de perto essas mudanças e ajustar suas estratégias conforme necessário para garantir a proteção e o crescimento de seus ativos.

Outro aspecto relevante é o papel da política fiscal no cenário econômico atual. O Copom ressalta a importância de uma política fiscal responsável e comprometida com a sustentabilidade da dívida pública. Uma política fiscal sólida contribui para a estabilidade econômica, reduzindo os riscos e criando um ambiente mais favorável para investimentos. A responsabilidade fiscal é como uma bússola que guia o governo na administração de suas finanças de forma equilibrada e transparente ao longo do tempo.

Significa manter um controle adequado entre o que se arrecada e o que se gasta, além de garantir que a dívida pública seja gerenciada de maneira sustentável. Quando um governo não segue esse princípio, enfrenta uma série de problemas. Os déficits constantes no orçamento, o aumento descontrolado da dívida, a inflação em alta e a falta de confiança dos investidores são apenas algumas das consequências.

Sem uma gestão fiscal responsável, o governo coloca em risco a estabilidade econômica e social do país, dificultando a implementação de políticas eficazes para promover o crescimento e o bem-estar da população. Em meio a todas essas incertezas, uma coisa é certa: a condução da política monetária requer serenidade, moderação e, acima de tudo, compromisso com o objetivo de garantir a estabilidade econômica e o bem-estar da população.

O Copom em sua decisão demonstrou estar ciente dos desafios que se apresentam e está preparado para tomar as medidas necessárias para enfrentá-los da melhor maneira possível. O futuro da economia brasileira dependerá, em grande parte, das decisões tomadas hoje pelo Banco Central e pelo governo.

*Lucas Sharau é especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos

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